O Parque do Flamengo, oficialmente Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, conhecido popularmente também como Aterro do Flamengo ou apenas como Aterro, é um complexo de lazer que foi construído sobre aterros sucessivos na Baía de Guanabara. O material utilizado para o aterro veio do desmonte dos morros do Castelo e de Santo Antônio. Foi inaugurado oficialmente em 1965 com 1.200.000 metros quadrados.
O Parque estende-se do Aeroporto Santos-Dumont, no centro da cidade, ao início da Praia de Botafogo, na Zona Sul. Entre os elementos do complexo, destacam-se: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, a Marina da Glória, o Monumento a Estácio de Sá, uma via expressa para veículos, áreas destinadas à prática de esportes, um restaurante e duas praias (a da Glória e a do Flamengo).
DesmonteCastelo - óleo sobre tela de Vítor Meirelles (1885) com uma vista panorâmica do morro do Castelo |
Imagens de AMalta sobre o desmonte do Morro do Castelo |
No início dos anos 60, desencantado com as dificuldades para realizar suas obras e os limites da relação com o Estado, Reidy pretendia dedicar-se a projetos privados e a participar de concursos no exterior. Tinha 50 anos e um livro sobre sua obra, com prefácio do historiador Sigfried Giedion acabava de ser publicado na Alemanha.
Com a transferência da capital para Brasília foi criado o Estado da Guanabara e seu governador convidou Lota de Macedo Soares para urbanizar o Aterro da Glória - Flamengo. A solução original era utilitária, determinada pela necessidade da expansão viária, e definia-se em quatro faixas de trânsito.
Reidy concordou com a ressalva de não trabalhar mais na Prefeitura. Lota montou o escritório da equipe no próprio Aterro. O trabalho da equipe consistia em solucionar o problema do trânsito, elaborar a construção paisagística e a utilização da área para fins recreativos.
O Parque do Flamengo é único por ser à beira-mar e afastar o trânsito da orla marítima. Com acesso igualmente fácil para todos os bairros e o cenário espetacular do mar e das montanhas. As pistas do Aterro foram rebaixadas para reduzir a altura a ser vencida e o esforço dos pedestres.
Os planos de REIDY para a área do desmonte do morro de Santo Antônio e Aterro da Glória–Flamengo são estruturados numa visão global da cidade e nos fundamentos do urbanismo moderno, solucionando problemas de diferentes escalas com as mesmas ferramentas do projeto.
Desmonte do Morro de Santo Antônio |
De acordo com as palavras de Carmen Portinho, em entrevista para Ana Maria Magalhães (diretora do filme "REIDY, a contrução da utopia"): “Reidy queria fazer a passagem dos veículos subterrânea. Porque o veículo é que tem que subir e descer. Não é o pedestre que tem que subir a passarela entende? Mas era dispendioso e a prefeitura não tinha elementos para fazer essa travessia subterrânea. Ele fez um parque para o povo. Não só de lazer, de recreação, como de beleza, de paisagismo... Em vez de começar a construir blocos de habitação, espigões, como era a orientação do governo. Uma parte também que servisse entre migração da Zona Sul e o centro da cidade. A Lota Macedo Soares trabalhou com muito afinco na direção da execução desse projeto, conseguindo que se aprovasse os pontos principais como a passarela.”
O Aterro começa com o desmonte do morro do Castelo para ocupar a área onde atualmente está o Aeroporto Santos-Dumont, mas o evento urbano propiciado pelo arrasamento do morro não teve seu destino previamente traçado e nenhuma proposta foi implantada integralmente, deixando como sobrevivência um tecido fragmentado e espaços até hoje sem solução.
Segundo Reidy, o Rio de Janeiro se desenvolve em extensas faixas dificultando os deslocamentos das massas populacionais. O tempo gasto nos percursos diários, da casa ao trabalho, absorve as horas que deveriam ser empregadas no lazer.
Com as vias e o sistema circulatório deficientes, a solução viria através da criação de novos métodos de planejamento.
Vista aérea parcial do Parque do Flamengo |
Do momento em que a cidade se desenvolvesse em nome das necessidades lógicas e da problemática coletiva, os construtores seriam muitos e sucessivos, e a autoria teria as marcas do sentimento comunitário de cada época. Caberia ao artista interferir como elemento crítico da sociedade, sugerindo e impondo as soluções.
Reidy fundamenta sua ação no planejamento em grande escala introduzido por Agache e na concepção poético-revolucionária de Le Corbusier. Por três vezes foi diretor de Urbanismo materializando idéias e adotando soluções localizadas ou estruturais, conforme as necessidades da sociedade e os limites reais da relação entre arquitetura e poder.
O urbanista contempla as quatro funções da cidade, habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e circular, articulando relações entre geral e particular, tradição e novo, modernismo e realidade, arquitetura e paisagem. Enfim, isso era o urbanismo que ele pensava em toda a sua plenitude. Mas não era isso o que em geral os administradores queriam.
Trailer do filme "REIDY, a construção da utopia" que fala sobre o Aterro
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Burle Marx e ATERRO
Botânico, artista plástico e desenhista, em seu paisagismo Burle Marx transpõe os princípios da pintura moderna para a natureza viva. Defende as matas e se entusiasma como um amador no sentido pleno da palavra, em processo permanente de pesquisa e criação.
Em seu projeto paisagístico Burle Marx criou áreas de interesse com terraços, jardins, pátios com fontes, repuxos d’água, locais para a exposição de escultura ao ar livre, e grandes gramados que conduzem a vista para baía além do emprego de árvores que dão sombra e em determinadas épocas do ano flores.
Aprecia o modo de Reidy trabalhar equacionando as necessidades de todos os profissionais envolvidos sem prioridades e procurando novas proposições para solucionar problemas de resolução de espaços com inventividade e conhecimento. Para Burle Marx, no convívio que mantiveram durante muitos anos, a amizade e o sentido profissional se misturavam resultando numa atitude permanente de equilíbrio.
Nas longas conversas que mantinham, Reidy investigava a razão das propostas e soluções, o critério para escolha da vegetação. Burle Marx admirava o entusiasmo do arquiteto experiente interessado nos menores detalhes da construção de um jardim.
O parque do Flamengo idealizado para ser um “pulmão” da cidade alia natureza e técnica. Espaço público central, aberto a todos e de conformação precisa, é o mais querido e utilizado pelos cariocas.
Burle Marx considerava Reidy um arquiteto sóbrio e revolucionário que destinou quase toda a sua obra à comunidade, com exceção de duas casas que projetou para Carmen. “A respeito dos jardins ele sempre discutiu e teve um entusiasmo pelo meu trabalho”, conta Burle Marx.
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Para MAX BILL (designer gráfico, designer de produto, arquiteto, pintor, escultor, professor e teórico do design, cuja obra o coloca entre os mais importantes e influentes designers do século XX), uma cidade como o Rio de Janeiro, toda de frente para o mar, o terreno é inconsistente... É sempre um território que é ganhado do mar. No caso do Reidy particularmente então, mais uma vez, toda aquela frente magnificamente ajardinada que nós conhecemos muito bem, Flamengo, Botafogo, é trabalho do Reidy. Aqueles ganhados do mar e aquela urbanização da frente toda.
Ele ainda completa: "Esse é um dos projetos mais intrigantes, mais belos do Reidy. A urbanização daquilo tudo. Colheu da experiência mundial já admiradíssima na época e usou isso no seu projeto, por exemplo, e principalmente convocou Burle Marx para fazer os jardins. Esse projeto é assim interessantíssimo sobre essa visão de transformação da natureza por desejos e necessidades humanas. Que é como que se a paisagem natural do Rio, magnífica, precisasse ela mesma se urbanizar e se domesticar para chegar enquanto já um jardim até a frente das ondas do mar. Isso é muito lindo, esse projeto.
É uma visão encantadora da consciência sobre jardins. É um contraponto com o outro jardim mais conhecido da nossa civilização ocidental, os jardins franceses com tudo cortadinho, os buchinhos e coisa... E esse jardim nosso, um tanto elogio lírico da própria natureza, é muito lindo. Enquanto trabalho objetivo e seriíssimo do ponto de vista da engenharia.
Porque isso pressupõe, a realização disso, no sentido de coisa material feita: muralhas de cais, dragagens pra você repor territórios aplainados, drenagens, mecânica dos solos, mecânica dos fluidos... São trabalhos de alta excelência do ponto de vista da técnica, e realizam coisas assim, aparentemente, de uma singeleza qual possa ser um jardim. Esse é um dos trabalhos mais lindos da arquitetura, na minha opinião, urbanismo, arquitetura do século XX, como transformação e realização da cidade.
Porque a natureza se vale à pena, convocando a memória do Reidy, pode-se dizer que é um desastre, ela por si. Ela precisa ser surpreendida e revelar os seus mistérios, os seus segredos. Essa parte fenomenológica da natureza.
Portanto pra nós a consciência é tão grande de tudo isso, americanos e particularmente brasileiros, que se você imaginar que já podia estar ali há mil anos atrás, naquelas praias, olhando aquela paisagem aquilo seria lindo, mas para nós não é. Porque o essencial é a cidade.
Mas você quer ver um horizonte, onde podia se convocar inclusive o Reidy, como quem diz: falta tanta que ele faz, fará mais ainda quando nós tivermos que enfrentar o quê?
É possível imaginar um projeto para nós, de uma expansão da vida humana no universo. Ou seja, se esse planeta sucumbir, digamos assim, se exaurir, podemos imaginar novos espaços para inaugurar no universo. Como quem diz: como seria o MAM em Marte? Do Reidy, o MAM do Reidy. E os jardins do Burle Marx nos anéis de Saturno, desenhados pelo Reidy? Então nós todos temos que imaginar que seremos os Reidys do futuro!"
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