quarta-feira, 9 de novembro de 2011

REIDY e o Museu de Arte Moderna (MAM)

Pode-se dizer que, junto com o Aterro do Flamengo, o Museu de Arte Moderna, fundado em 1953, é o projeto de Reidy mais conhecido pelos cariocas.

Com uma filosofia de que o museu precisa ser um lugar dinâmico, o MAM foi projetado e criado por Reidy. O museu tem um lugar para conferências, discussões, debates, exposições, tudo o que possa atualizar, debates com artistas, como também tem a parte de educação. É o chamado bloco-escola onde houve aulas de gráfica, de escultura. A equipe de projeto instalou um ateliê de gravura, um modelo como não tinha no Brasil.


Antes de existir o projeto do Museu de Arte Moderna como parte do Parque do Flamengo, seu acerco existia dentro do Banco Boavista, fundado pelo Barão de Savedra, mas esse acervo não tinha projeção. Preocupado em dar uma maior visibilidade ao seu museu, o Barão convidou a artista plástica e escultora Maria Martins para ser a diretora, que, por sua vez, indicou Niomar Moniz Sodré, que tinha na época como respaldo o jornal Correio da Manhã.

Além disso, foi nomedado um conselho diretor forte, de pessoas "poderosas", que doaram importantes obras para a instituição e, nesse momento, efetivamente surgiu o Museu de Arte Moderna.

O então prefeito João Carlos Vital disposto a erguer um edifício exclusivo para o musei disse: "eu tenho um bom arquiteto, chefe do meu departamento de Urbanismo, que eu posso designá-lo para arquiteto do museu, e tem a vantagem de não custar nada ao museu."

Reidy planejou e orientou o edifício do Museu, de modo a aproveitar a paisagem do Pão de Açúcar, do Corcovado e do mar. Ele sempre fazia um projeto pessoal em comunhão e integração com o ambiente.

Carmen Portinho, na época trabalhando no governo, juntamente com Reidy começaram o Museu de Arte Moderna quando o local ainda era mar. De modo que as fundações foram feitas a uma profundidade muito grande, de 16 a 20 metros de profundidade. À proporção que iam aterrando a área as fundações eram realizadas. "Foi o pior momento da construção em que eu trabalhei quase que dentro d’água", lembra Carmen.

croqui da fachada norte, perfil do teatro à esquerda

Planta baixa do pavimento térreo

Planta baixa do primeiro pavimento e do subsolo

Planta baixa do segundo pavimento

Reidy isolou o edifício das construções do bloco urbano mais próximo para entender-se diretamente com a paisagem. O prédio foi projetado no sentido horizontal em contraponto ao perfil das montanhas, com a estrutura vazada que leva os jardins até o mar através do próprio edifício, deixando livre grande parte do térreo.

Reidy obteve da escada em casca de laranja o módulo da passarela. O projeto compõe-se de vigas triangulares justapostas com vão livre de cinqüenta e seis metros. Construída em concreto protendido tem 84 metros de extensão, 10 de largura e 14 graus de rampa máxima.

O uso do concreto aparente evidencia o processo formal e sua conversão em estrutura. O arquiteto atribui o mesmo valor aos diversos componentes na sua articulação obtendo o equilíbrio estrutural do conjunto, revela maturidade e autonomia e depura sua linguagem operando vários elementos expressivos com economia de meios, disciplina e refinamento construtivo.

O arquiteto utiliza materiais em seu estado natural, tirando partido de suas cores e texturas, com predomínio do concreto e da alvenaria de tijolo sem revestimento, do alumínio e vidro. Entre a inauguração do Bloco-Escola e a da Galeria de Exposições passaram-se dez anos.

Reidy com o ex-presidente JK em frente da maquete do Museu de Arte Moderna

Mesmo em obras o MAM tornou-se uma espécie de ponto turístico para as autoridades e a elite, e local obrigatório para as mais diversas manifestações culturais e políticas. O espaço lúdico entre a cidade e o parque, com nova ordem de informações visuais busca integrar arte e sociedade.

Reidy adotou uma solução aberta fazendo com que a natureza em volta participasse da obra de arte como um espetáculo oferecido ao visitante do Museu. A eliminação das colunas e a substituição das paredes por placas leves oferecem amplas possibilidades de ordenação dos espaços, com o uso de grandes áreas ou a formação de pequenas salas.

O sistema de iluminação é flexível mesclando luz natural e artificial. A iluminação natural confere um sentido de vida e de movimento aos espaços, beneficiando as obras expostas da variedade de sensações que a luz diurna proporciona.

Nos trechos onde o pé direito é duplo a iluminação é zenital com luz difusa e uniforme, sem sombras e relevo, deixando o ambiente neutro. Nos trechos de menor pé direito, a galeria tem iluminação lateral dando direção ao espaço e relevo aos objetos.

O arquiteto em geral se preocupa com o homem, quer dizer, o que vai utilizar o seu projeto. Daí a conseqüência da função ser necessária e indispensável. Ele não pode também deixar de lado a forma. Ele tem que pensar na forma que vai dar ao edifício.
E uma arquitetura, um museu, por exemplo, é uma obra de arte. E outros projetos dele são obras de arte, em arquitetura. É preciso sentir, ter sensibilidade, se emocionar prá projetar.



Incêndio MAM, 8 de julho de 1978

Na madrugada de inverno em apenas trinta minutos um incêndio provavelmente originado num curto-circuito, atinge o bloco de exposições e a biblioteca, destruindo a maior parte do acervo do Museu de Arte Moderna e as obras de uma retrospectiva do uruguaio Torres-Garcia.

Um ano e meio depois o MAM foi reaberto e atualmente abriga a maior coleção mundial de arte moderna brasileira. Com unidade formal, espacial e construtiva, sua ordem arquitetônica exibe a razão de sua constituição, e no cruzamento entre idéia e realidade fragmentada social e culturalmente, afirma a sua grandeza.


Declaração de Carmen Portinho

"Na ocasião que nós estávamos construindo o Museu de Arte Moderna, apareceu aqui no Brasil um grande engenheiro, pintor, escultor chamado Max Bill.

E foi visitar o museu. E lá ele mostrou ao Reidy, a mim, a outras pessoas interessadas, a fotografia do projeto do edifício onde seria fundada a escola de Ülme. Era uma escola que vinha herdeira da célebre Bauhaus fechada por Hitler.

Aí nós tivemos a idéia de que essa escola podia ter uma similar no Brasil. Na hora da construção do museu o Reidy incluiu no Bloco-Escola um projeto das instalações de uma escola de desenho industrial. Então se pode dizer que a idéia da escola de desenho industrial nasceu no Museu de Arte Moderna.

O Aloísio Magalhães foi um grande comunicador visual, um grande gráfico. Ele era do Museu de Arte Moderna também, então ele fez parte do grupo que fundou a ESDI.
"


Declração de Burle Marx

Esse arquiteto tinha qualidades excepcionais porque não só tinha o lado humilde, mas uma certeza também no que ele fazia. Sempre me defendeu com unhas e dentes, apesar de que na ocasião alguns diretores disseram: - Bom, isso do Burle Marx dar o jardim gratuitamente não quer dizer que nós aceitemos.

Ele achou que era um absurdo e disse: - Vocês não entendem absolutamente de jardins e quem quer sou eu. Reidy sempre compreendeu que os jardins naquele caso eram uma extensão da arquitetura. De maneira que o jogo de volumes, as texturas, o relacionamento de formas teve uma importância muito grande. Porque muitas vezes são verticais como as palmeiras que vão contar como complementação da arquitetura.
"


Nenhum comentário:

Postar um comentário