segunda-feira, 31 de outubro de 2011

REIDY e Carlos Drummond de Andrade

Hoje, 31 de outubro, se comemora o nascimento do grande escritor Carlos Drummond de Andrade. Dia de festa, para a qual outros poetas devem ser convidados. O dia que estão considerando como "Dia D" (esse D de Drummond) é dia de todos, dia dado de bom grado por aquele que nos deu A rosa do povo, Claro enigma, A vida passada a limpo e tantas outras maravilhas.

Muitas pessoas não sabem, mas Drummond foi contemporâneo de REIDY. Quando do lançamento da pedra fundamental do atual Edifício Gustavo Capanema (ou Palácio Capanema), no Centro do Rio de Janeiro, em 1947, houve o discurso do então ministro Gustavo Capanema com a presença de Carlos Drummond de Andrade, Roquette-Pinto etc.  O edifício é considerado um marco no estabelecimento da Arquitetura Moderna Brasileira, tendo sido projetado por uma equipe composta por Lucio Costa, Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, entre outros, com a consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier.

O poeta conquistou o apoio do Ministro Capanema que levou Lúcio Costa ao presidente da República (Getulio Vargas) para convencê-lo a trazer Le Corbusier ao Brasil.

Aqui no Brasil, o Museu de Arte Moderna só foi reconhecido depois que os Estados Unidos mandaram um arquiteto para fazer um levantamento do que se fazia aqui no Brasil, já como coisa moderna, aí que a imprensa, os críticos brasileiros aí que desconfiaram e começaram a levar a sério. Aí houve um movimento de aceitação. Depois desse louvor público do estrangeiro.

Em um momento de tristeza pelo falecimento de REIDY, Drummond despedindo-se do arquiteto escreveu: “A morte de Affonso Eduardo Reidy desperta-me antes de tudo uma sensação de coisa errada, fora de norma e ritmo. Como se ele, cedendo à modéstia, houvesse furado a fila dos mais velhos, que estavam na sua frente, para chegar primeiro. Reidy era a distinção, a finura em pessoa, não podia passar à frente de outros. Tinha um modo tão seu de trabalhar em discrição, como tantos outros trabalham em apoteose. Sua vida merecia ter sido longa e protegida dos males cruéis. E depois, apenas um cinqüentão, ele tinha ainda muito que fazer por causa do muito que já fizera. Nós, usuários dessa criação, estamos sempre exigindo mais. Nada pedimos aos omissos e aos estéreis, mas de um sutil manipulador de forma e espaço, como Reidy, quanta coisa se podia esperar ainda!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

REIDY e o Palácio Gustavo Capanema


O Palácio Capanema é um dos primeiros exemplares da arquitetura moderna no Brasil. Foi construído em um momento durante o qual o Estado intentava passar uma sensação de modernidade ao país, o que se refletiu tanto no projeto do edifício quanto no contexto histórico em que se insere. A construção ocorreu entre 1936 e 1945 e o edifício foi entregue em 1947.

Inspirado e influenciado pelas idéias de Le Corbusier, o arquiteto e urbanista Affonso Eduardo Reidy faz parte da equipe de arquitetos que no fim da década de 1930 projeta o edifício-sede do recém-criado Ministério de Educação e da Cultura (edifício conhecido hoje como Palácio Gustavo Capanema). Aí trabalha sob a direção de Lúcio Costa, com a colaboração do próprio Corbusier.



A decisão de convidar o próprio Le Corbusier para trabalhar como consultor do projeto é parte de um acordo entre Lucio Costa e Capanema. O arquiteto franco-suíço chega então ao país, em 1936, para assessorar diretamente o plano do ministério e para elaborar o primeiro esboço da Cidade Universitária que se pretendia construir na Quinta da Boa Vista, mas que nunca saiu do papel.

O Palácio Capanema é conhecido também como o prédio do MEC, pois funcionou como sede do Ministério de Educação e Cultura. Na transferência da capital para a Brasília o nome mudou para Palácio da Cultura.O nome atual (desde 1985) é uma homenagem ao ministro que, na época, ordenou sua construção.

Construído numa área de 27.536 metros quadrados, o projeto procura seguir de modo bastante fiel as recomendações de Le Corbusier para o que ele considerava uma "nova arquitetura": seu bloco principal está suspenso sobre pilotis, possui a estrutura portante livre das paredes e divisórias internas, e está vedado por cortinas de vidro. Foi um dos primeiros edifícios, em todo o mundo, a fazer uso do recurso do brise-soleil (quebra-sol) a fim de evitar a incidência direta de radição solar em sua fachada norte.




A escolha dos materiais da construção foi também bastante arrojada: ferro e concreto, combinação de gnaisse e painéis de azulejos. Foram usados mármore de lioz, tijolo de vidro inglês misturado com mármore amarelo.

Possui amplo jardim externo e jardim suspenso, projetados por Roberto Burle Marx.

O revestimento externo é feito por azulejos de Cândido Portinari, há importantes peças de escultura de Celso Antônio na escada de Lipschitz, na parede externa do auditório e de Alfredo Ceschiatti nos jardins. Há também obras de Guignard e Pancetti.

O local abriga uma biblioteca, uma livraria, sala de espetáculos, auditórios, salão de exposições, arquivos digitais e sonoros e estruturas administrativas do Ministério da Cultura e de suas instituições vinculadas. Funcionam diversos órgãos – Funarte, Biblioteca Noronha Santos, as Representações dos Ministérios da Educação e da Cultura no Rio de Janeiro, dentre outros. Lá funcionou a primeira sede do Iphan, atualmente transferida para Brasília. Grande parte do acervo dessa instituição pioneira na América Latina, com mais de 70 anos, ainda se encontra no prédio.




quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A síntese da obra de REIDY

A obra do Reidy, em síntese, pode-se dizer que foi não só uma obra de um arquiteto, mas também uma obra social. Ele procurava fazer uma coisa que servisse às necessidades sociais, utilizada pelo homem.

Reidy com Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ao fundo

Veja algumas declarações sobre Reidy e seu legado

- LUCIO COSTA (arquiteto e urbanista)

Ele era o mais civilizado dos nossos arquitetos. Naturalmente. Aquela coisa natural, sem qualquer pretensão ou esforço. “Je suis comme je suis”, aquele negócio da canção. E uma pessoa de um caráter excepcional. Confiável, muito confiável.

Ele conseguiu botar esse movimento renovador que estava ocorrendo numa trilha de apuro arquitetônico, uma trilha elegante, digamos. De modo que eu acho que a presença dele neste momento foi fundamental.

- CARMEN PORTINHO (ex-esposa, arquiteta e urbanista)

Ele trouxe muita coisa prá arquitetura. Como também de fazer uma habitação popular, um parque pro povo, um museu, um edifício de pensões, a escola do Paraguai, um oferecimento do Brasil ao Paraguai.

Eu considero a arquitetura de um grande arquiteto que não tem até agora reconhecido no seu país o seu valor como arquiteto.

- PAULO MENDES DA ROCHA (arquiteto e urbanista)

Se há uma memória que convoca o plano afetivo da minha formação, é a memória do Reidy. Pelo trabalho dele, desde o tempo de estudante isso me acompanha como uma estrutura muito consistente no sentido de dizer o que é, do que se trata a arquitetura. E, entretanto, por felicidade suprema minha ainda pude conhecê-lo pessoalmente.

Certa vez, eu pus um projeto na Bienal de Artes de São Paulo e ganhei o grande prêmio Presidência da República com o Reidy no júri. E ele me telefonou depois, queria me conhecer. Eu fui ao Rio e estive com ele muito brevemente. Mas o trabalho dele tem uma importância na formação dos arquitetos, creio que do mundo inteiro, mas dos brasileiros sem dúvida muito forte. Esse parlatório nas cidades se transforma, se multiplica de modo tão gentil que você podia dizer um desses lugares é o bar.

O que seria da crônica do Rio de Janeiro sem os bares e os botequins?

O Reidy tem um trabalho, uma maneira de enfrentar a questão da arquitetura eminentemente demonstrativa da possibilidade de fazer aquilo que você pensa. Porque uma coisa interessante de considerar e que você pode logo remeter para a idéia de cidade é que existe antes que se faça. É um desejo.

Eu acho que o Reidy não é nada de utópico, ao contrário ele tem uma visão muito objetiva da possibilidade da técnica em relação à realização desses desejos.

Você podia dizer, por exemplo, que uma das virtudes que podia se ressaltar na obra do Reidy é a capacidade que tem o seu desenho de demonstrar claro, como quem demonstra para ensinar, e dizer faça você também e continue o êxito da técnica.

A cidade é uma grande casa. Do ponto de vista de uma visão, digamos feminina, é o único lugar que você pode imaginar o futuro dos filhos.

A cidade é muito maternal, eu tenho a impressão. Sem escolas, sem hospitais, sem creches, sem diversão, sem possibilidade de transmissão de conhecimento que a cidade promove...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Documentário sobre a obra do arquiteto Affonso Eduardo Reidy estreia em 11 de novembro nos cinemas

Dirigido por Ana Maria Magalhães, Reidy, A Construção da Utopia, tem depoimentos de Paulo Mendes Rocha, Lucio Costa, Carmen Portinho e Roland Castro

O longa de Ana Maria Magalhães recebeu o prêmio de melhor documentário de longa-metragem no Festival do Rio 2009. Entra em cartaz no dia 11 de novembro em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Juiz de Fora e Fortaleza.
Nascido em Paris e radicado no Rio, o urbanista Affonso Eduardo Reidy é um dos pioneiros da arquitetura moderna. Em projetos notáveis, como o Conjunto Habitacional do Perdregulho.com o qual ganhou a Bienal de 1953, e o Museu de Arte Moderna, Reidy apresenta apuro arquitetônico e elege o homem como o centro de suas atenções.
O filme “Reidy, a construção da Utopia” aborda a sua trajetória desde os anos 30 até a construção do Aterro e Parque do Flamengo, em que retorna a cidade como tema central de sua arquitetura. Textos do próprio arquiteto nos contam suas alegrias, decepções e vitórias, além da iluminada contribuição para o Rio de Janeiro nos tempos modernos.
Sua obra é debatida nas entrevistas exclusivas do urbanista Lucio Costa, para quem Reidy era o mais elegante e civilizado de sua geração; da engenharia Carmen Portinho, parceira no Pedregulho e no MAM; do arquiteto Paulo Mendes da Rocha que o relaciona ao urbanismo contemporâneo e do francês Roland Castro que apresenta um contraponto entre Paris e o Rio.
Com uma arquitetura generosa e alegre, de significação pública, social e estética, que proporciona bem estar e contato com a natureza. Reidy faz parte do cotidiano dos Brasileiros. O filme resgata do anônimo um arquiteto popular, como atesta o sucesso do Parque do Flamengo, espaço amplamente utilizado e marco da cidade.
Ao construir a paisagem urbana do Rio, Reidy promove a sua transformação em cidade moderna. A atualidade de sua obra permite abordar, entre outros temas, o problema da habitação com o crescimento das favelas, o apartheid urbano na divisão entre bairros ricos e pobres, a função social da arquitetura e a capacidade de ação da utopia em transformar o que se pensa e deseja em realidade concreta e construída.
Vivemos um momento de valorização mundial do urbanismo com o reconhecimento crescente da importância das cidades no desenvolvimento dos países. E o trabalho de Reidy nos revela o quanto à arquitetura é decisiva para a vida dos habitantes das cidades.

Ana Maria Magalhães nasceu no Rio de Janeiro em 1950 e aos 15 anos iniciou sua carreira como atriz em Les Amants de La Mer, de Antonine d’Ormesson. Atuou em alguns filmes de grandes realizadores brasileiros: Como era gostoso o meu francês, de Nelson Pereira dos Santos (1970); Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues (1972); Lúcio Flavio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco (1977); e A Idade da Terra, de Glauber Rocha (1980).
Como diretora recebeu vários prêmios, entre eles: Melhor Filme Experimental com Assaltaram a Gramática (1984) na Jornada de Curta Metragem de Salvador. Prêmio Espacial do Júri do Festival de Brasília com O Bebê (1987), e Margarida de Prata da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com Mangueira do Amanhã (1993).

FICHA TÉCNICA
2009, 35mm, 77 minutos
DIREÇÃO, ROTEIRO e PRODUÇÃO: Ana Maria Magalhães
PRODUÇÃO: Clear Channel
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA : Dib Lutfi
DIREÇÃO DE ARTE: Carlos Liuzzi
Edição: Marcelo Pedrazzi
SOM: Dolby Digital
EDIÇÃO DE SOM: Beto Ferraz
PESQUISA: Adriana Cursino
DISTRIBUIÇÃO: Espaço Filme

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

REIDY e o Complexo Habitacional PEDREGULHO

O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como PEDREGULHO, faz parte do conteúdo do filme “REIDY, a construção da utopia”, documentário de Ana Maria Magalhães, que conta a vida do arquiteto e urbanista Affonso Eduardo Reidy (1909-1964).

Complexo Habitacional Pedregulho
Projetado por REIDY, a partir de 1947, para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal, o Pedregulho está localizado no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, e compõe a face social da arquitetura de Reidy, ao lado da Unidade Residencial da Gávea (1952) e do Teatro Armando Gonzaga (1950), em Marechal Hermes.

O Pedregulho, elogiado por Max Bill (1908-1995), em 1953, e por Le Corbusier (1887-1965) em sua passagem pelo Brasil, em 1962, marca um momento de reconhecimento internacional das obras arquitetônicas e urbanísticas de Reidy.

A construção do complexo residencial projeta Reidy internacionalmente como um arquiteto capaz de criar soluções ambientais e espaciais, reflexivas e formais, com qualidade técnica e plástica, e sentido social.



O prêmio para o Conjunto Residencial do Pedregulho na 1ª Bienal de São Paulo em 1953 foi justificado pelo presidente do júri, Sigfried Giedion, como uma realização exemplar para o Brasil e uma audaciosa solução de habitação, onde já realizou uma obra social: “Essa solução de conjunto constitui um simples exemplo de como toda a cidade deveria ser formada. O júri lamenta que a obra fique isolada, surgindo entre bairros formados anarquicamente”.

Com seus volumes ritmicamente variados, espaços permeáveis e transparentes movimentando-se em fluxo contínuo, ao encontro de um novo conceito de habitação social, o Pedregulho é o testemunho de um país que prefigurava o futuro.

Apaixonado por seu trabalho, Reidy disse: “A função habitar não se resume na vida de dentro de casa. Estende-se em atividades externas, compreendendo serviços e instalações complementares que proporcionam ao habitante as facilidades necessárias à vida de todo o dia.

Nós tínhamos que começar fazendo apenas para os funcionários da prefeitura, que moravam às vezes a quilômetros e quilômetros de distância do trabalho, quando um dos conceitos do Le Corbusier e que nós pretendíamos seguir, era trabalho próximo à habitação. E com isso resolvia indiretamente o problema do transporte.

Então, nós trabalhávamos com duas, três assistentes sociais, que visitavam os operários, os funcionários de baixa renda daquele bairro. De modo que não tinha essa história de “pistolão”, que vinha um parlamentar um pistolão querer botar no Pedregulho pra morar um sujeito que trabalhava em Bangu, porque isso fugia ao nosso critério.

O Bloco “A” com 260 metros de extensão contém 272 apartamentos de diferentes tipos. A solução duplex foi adotada por oferecer maior rendimento, pela possibilidade de atingir sem elevador os quatro pavimentos, sendo o acesso ao último andar feito do interior do apartamento.

Os blocos “B1” e “B2” têm 80 metros de extensão, com duas ordens de apartamentos duplex, contendo 56 unidades de 2, 3 e 4 dormitórios. O quarto bloco de habitação não chegou a ser construído.






Diante da má administração e posterior degradação do Pedregulho, Lucio Costa comentou: “Contribuiu de fato, mas era uma coisa que visava mais longe. E isso aí o ambiente não ajudou. O Brasil negativo sempre interfere nas iniciativas inovadoras.

Carmen Portinho, esposa de Reidy, conta que “os prédios eram sobre ´pilotis´, porque embaixo dos ´pilotis´ podia servir não só para recreio em dias de chuva, com estacionamento perto. Mas não podia dentro daquela área circular carro. Porque a escola é considerada como o centro em torno do qual gira toda aquela população. Porque a mãe quando manda seu filho à escola tem que ter a escola perto da sua habitação. Isso é um princípio indispensável, evita o transporte da criança, evita o deslocamento dos pais. E uma piscina, que naquele tempo causou escândalo. Uma piscina na escola. E o centro do terreno onde se fazia o local de brinquedo das crianças. E a mãe ficava despreocupada, porque da própria janela onde ela estava, ela estava vendo o seu filho ou ir para a escola, ou ir brincar no playground.

foto álbum de família
Carmen Portinho (1903-2001)
Engenheira e militante feminista, nasceu em Corumbá (MT), em 26 de janeiro de 1903, mudando-se muito cedo para o Rio de Janeiro. Militou entusiasticamente nas décadas de 1920 e 1930 em prol da conquista feminina e do reconhecimento profissional das mulheres. Em 1937, ajudou a criar a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA) e foi sua primeira presidente. Na ocasião, esta era a única entidade profissional de classe composta exclusivamente por mulheres. Ainda na década de 1930, Carmen fez o primeiro curso de urbanismo do país. Poucos anos depois recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reconstrução e remodelação das cidades inglesas destruídas pela guerra. Chegou à Inglaterra com a guerra ainda em curso, sentindo os gravers problemas de falta de moradia, e acompanhou de perto as propostas e o esforço para sua solução. Voltando ao Rio de Janeiro, propôs e construiu, na década de 1950, o conjunto residencial Pedregulho, no bairro de São Cristóvão. Faleceu no Rio de Janeiro em 2001.


Veja um pequeno trailer (destaque para o Pedregulho) do filme "REIDY, a construção da utopia", em cartaz em grande circuito a partir de 11 de novembro de 2011.



Apensar de atualmente o Pedregulho não estar bem conservado e vários de seus serviços não funcionarem mais, algumas moradores quiseram dar declarações à diretora do filme “REIDY, a construção da utopia”, Ana Maria Magalhães:

Bom, eu vim morar aqui porque eu fiz uma pesquisa com o objetivo de fazer um projeto de restauração.

Localizado num lugar que você pode ir pra qualquer outro lugar que tem condução aqui em baixo.

Ah, isso aqui é muito bom. Um lugar muito tranqüilo para criar criança. Não precisamos prendê-los dentro de casa. Aqui eles soltam pipa. Aqui eles têm uma infância de fato.

Esse conjunto tem a característica de ter tido um carinho no projeto dos apartamentos. Você vê carinho quando você vê aqueles detalhes que eu te falei. Os detalhes mostram que houve um empenho, um empenho de que quem morasse aqui iria morar bem.

Então, nós tivemos uma infância maravilhosa. E nós tínhamos no início duas moças que visitavam as casas da gente, os apartamentos. Saber se precisava de alguma coisa, olhar as crianças, se as portas estavam abertas: ´Mantenha suas portas fechadas´. Mas eu nunca mantive a minha fechada, não.

Mas é uma obra muito boa. Veja bem, uma obra de cinqüenta e tantos anos ainda está como está! É original isso tudo ai. Tô dizendo, cinqüenta e tantos anos e ainda tem coisa moderna aqui. Foi um projeto talvez único.

E se alguém algum dia for perguntado o que você pensa da habitação social, talvez carregar um pouco deste exemplo daqui. Eles quiseram fazer o melhor. Mas foi um melhor muito adiantado pra época, sabe?

Foi quando a utopia e a realidade se encontraram, em um dado momento.

Porque nos tínhamos muito mais conforto aqui. Tínhamos lavanderia, posto de saúde. Tínhamos mercado, padaria... Eu aprendi a nadar ali. O ambulatório servia pra coisas de emergência, digamos, operações rápidas de amídalas.

Não é só construir um prédio, realmente é o conceito de bem estar social, das pessoas morarem e gostarem de onde moram.

Ao mesmo tempo você vê que os moradores estão tentando, de alguma forma, fazer com que o conjunto renasça. Eu só queria que alguém olhasse por isso aqui, mas mesmo assim continua bom.

painel de Portinari

Canção PEDRO DO PEDREGULHO (Geraldo Pereira)

Pedro dos Santos vivia no Morro do Pedregulho
Quebrando boteco, fazendo barulho
Até com a própria polícia brigou
Vivia do jogo e quando perdia só mesmo muamba
Rasgava pandeiro, acabava com o samba
Parece mentira, Pedro endireitou.

Estelinha, orgulho do morro, mulher disputada
Que quando ia ao samba saía pancada
Ao Pedro dos Santos deu seu grande amor
E ele trocou o revólver que usava, fingindo embrulho
Por uma marmita
E sobe o Pedregulho
De noite, cansado do seu batedor.




IMAGENS DO PEDREGULHO QUE FORAM RETIRADAS DO FILME


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

REIDY e a arquitetura

Para Reidy a riqueza da flora, a dramaticidade da paisagem, a força do sol, a cor do céu e o próprio temperamento do povo se refletem na arquitetura carioca, e talvez sejam responsáveis por uma certa exuberância formal.

Em seu caminho de síntese entre a arquitetura moderna européia, as tradições construtivas e urbanas locais e os problemas do país, Reidy parte da reflexão sobre o projeto e sua execução, do contato físico com os materiais, da experiência real, e ao longo de um processo de auto-conhecimento, se constitui como arquiteto e como pessoa.

Mesmo trabalhando quase exclusivamente para o poder público, Reidy não se burocratizou ou se oficializou. Talvez por isso os projetos concretizados tenham sido poucos, mas sua produção foi tão contundente, variada e socialmente relevante que o colocou entre os mais importantes arquitetos brasileiros de todos os tempos.

Affonso Eduardo Reidy exerceu atividade entre a Revolução de 30 e o golpe militar de 64, período em que a arquitetura brasileira contribuiu para o projeto de desenvolvimento nacional conciliando a industrialização e a modernização do país com a preocupação social e a ampliação do acesso à educação e à cultura.



REIDY trabalhando em seu ateliê

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Conheça um pouco da história de Affonso Eduardo Reidy

Affonso Eduardo Reidy nasceu em Paris em 1909, filho de pai inglês e mãe brasileira de origem italiana. Seu avô, o arquiteto Tomaso Bezzi, é autor dos projetos do Museu do Ipiranga (São Paulo) e do Clube Naval (Rio de Janeiro).

Principais infliências de Reidy: Le Corbusier, Walter Gropius e Mies Van Der Rohe
Reidy teve várias influências no seu trabalho, dentre eles Le Corbusier, Walter Gropius (Bauhaus), Mies Van Der Rohe, com seus espaços livres entorno, além da pureza e sobriedade formal dos arquitetos da Bauhaus.

O primeiro projeto construído, em parceria com Gerson Pinheiro, foi o Albergue da Boa Vontade (1931), vencedor de concurso público em que o júri reunia representantes do setor privado e público, com participação do ministro do trabalho, indicando a importância que o governo dava à obra.

Construído no Bairro da Saúde, o Albergue é uma jóia da arquitetura que flerta entre o Déco e o Moderno e foi destinado inicialmente a abrigar homens de rua.

O prédio, com um traçado bem geométrico, possui alas distribuídas em torno de um pátio e janelas, colocadas de forma horizontal por toda a fachada, que proporcionam ventilação cruzada e iluminação, exigia condições especiais de higiene em espaços para serviços de triagem e atendimento médico, além de dormitórios e refeitório. O acesso principal consiste numa grande abertura que permite ao usuário total ligação entre o espaço urbano e o pátio interno do edifício. A planta é simétrica, destacando-se apenas a área onde está localizada a dispensa, onde foi adotada forma arredondada, além da utilização de laje plana na cobertura, uma inovação no Brasil.

Albergue da Boa Vontade, 1931

Em 1930, leciona na escola onde se formou, contribuindo para a formação de uma geração de arquitetos que ficou conhecida como "escola carioca". Foi responsável pelas cadeiras de desenho e planejamento urbano.

Reidy assume desde cedo o compromisso com as necessidades da sociedade, mas também achava impossível para um arquiteto que defende idéias avançadas, viver do produto do seu ateliê. A maior parte de sua obra foi realizada no serviço público onde ingressou em 1932.

Em 1954, projeta o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, obra de concepção estrutural arrojada, logo após obter o primeiro prêmio da Exposição Internacional de Arquitetos da I Bienal de São Paulo, em 1953. Com o prestígio alcançado, é convidado a projetar o Museu Nacional do Kuwait.

Também é responsável pelos projetos do "Conjunto Habitacional da Gávea", projeto mutilado pela construção do Túnel Zuzu Angel, e do "Conjunto Habitacional Pedregulho", considerado arrojado pela sua concepção espacial e pela prioridade dada aos equipamentos de lazer e convivência. Os críticos costumam apontar os dois projetos como suas obras-primas.

Reidy foi o primeiro a propor um Centro Cívico no Brasil, conforme os “civic centers” americanos, no seu projeto para da área do desmonte do morro Santo Antônio, no Rio de Janeiro, em 1948.

O arquiteto e urbanista faleceu no Rio de Janeiro no ano de 1964.

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Obras mais famosas:
- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1953)
- Condomínio Pedregulho (1947)
- Conjunto Habitacional Marquês de São Vicente (Minhocão da Gávea - 1952)
- Ministério da Educação e Saúde (Palácio Capanema - 1936)
- Teatro Armando Gonzaga (Teatro Popular de Marechal Hermes - 1950)
- Aterro e Parque do Flamengo (1953)