Complexo Habitacional Pedregulho |
O Pedregulho, elogiado por Max Bill (1908-1995), em 1953, e por Le Corbusier (1887-1965) em sua passagem pelo Brasil, em 1962, marca um momento de reconhecimento internacional das obras arquitetônicas e urbanísticas de Reidy.
A construção do complexo residencial projeta Reidy internacionalmente como um arquiteto capaz de criar soluções ambientais e espaciais, reflexivas e formais, com qualidade técnica e plástica, e sentido social.
O prêmio para o Conjunto Residencial do Pedregulho na 1ª Bienal de São Paulo em 1953 foi justificado pelo presidente do júri, Sigfried Giedion, como uma realização exemplar para o Brasil e uma audaciosa solução de habitação, onde já realizou uma obra social: “Essa solução de conjunto constitui um simples exemplo de como toda a cidade deveria ser formada. O júri lamenta que a obra fique isolada, surgindo entre bairros formados anarquicamente”.
Com seus volumes ritmicamente variados, espaços permeáveis e transparentes movimentando-se em fluxo contínuo, ao encontro de um novo conceito de habitação social, o Pedregulho é o testemunho de um país que prefigurava o futuro.
Apaixonado por seu trabalho, Reidy disse: “A função habitar não se resume na vida de dentro de casa. Estende-se em atividades externas, compreendendo serviços e instalações complementares que proporcionam ao habitante as facilidades necessárias à vida de todo o dia.
Nós tínhamos que começar fazendo apenas para os funcionários da prefeitura, que moravam às vezes a quilômetros e quilômetros de distância do trabalho, quando um dos conceitos do Le Corbusier e que nós pretendíamos seguir, era trabalho próximo à habitação. E com isso resolvia indiretamente o problema do transporte.
Então, nós trabalhávamos com duas, três assistentes sociais, que visitavam os operários, os funcionários de baixa renda daquele bairro. De modo que não tinha essa história de “pistolão”, que vinha um parlamentar um pistolão querer botar no Pedregulho pra morar um sujeito que trabalhava em Bangu, porque isso fugia ao nosso critério.
O Bloco “A” com 260 metros de extensão contém 272 apartamentos de diferentes tipos. A solução duplex foi adotada por oferecer maior rendimento, pela possibilidade de atingir sem elevador os quatro pavimentos, sendo o acesso ao último andar feito do interior do apartamento.
Os blocos “B1” e “B2” têm 80 metros de extensão, com duas ordens de apartamentos duplex, contendo 56 unidades de 2, 3 e 4 dormitórios. O quarto bloco de habitação não chegou a ser construído.”
Diante da má administração e posterior degradação do Pedregulho, Lucio Costa comentou: “Contribuiu de fato, mas era uma coisa que visava mais longe. E isso aí o ambiente não ajudou. O Brasil negativo sempre interfere nas iniciativas inovadoras.”
Carmen Portinho, esposa de Reidy, conta que “os prédios eram sobre ´pilotis´, porque embaixo dos ´pilotis´ podia servir não só para recreio em dias de chuva, com estacionamento perto. Mas não podia dentro daquela área circular carro. Porque a escola é considerada como o centro em torno do qual gira toda aquela população. Porque a mãe quando manda seu filho à escola tem que ter a escola perto da sua habitação. Isso é um princípio indispensável, evita o transporte da criança, evita o deslocamento dos pais. E uma piscina, que naquele tempo causou escândalo. Uma piscina na escola. E o centro do terreno onde se fazia o local de brinquedo das crianças. E a mãe ficava despreocupada, porque da própria janela onde ela estava, ela estava vendo o seu filho ou ir para a escola, ou ir brincar no playground.”
foto álbum de família |
Engenheira e militante feminista, nasceu em Corumbá (MT), em 26 de janeiro de 1903, mudando-se muito cedo para o Rio de Janeiro. Militou entusiasticamente nas décadas de 1920 e 1930 em prol da conquista feminina e do reconhecimento profissional das mulheres. Em 1937, ajudou a criar a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA) e foi sua primeira presidente. Na ocasião, esta era a única entidade profissional de classe composta exclusivamente por mulheres. Ainda na década de 1930, Carmen fez o primeiro curso de urbanismo do país. Poucos anos depois recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reconstrução e remodelação das cidades inglesas destruídas pela guerra. Chegou à Inglaterra com a guerra ainda em curso, sentindo os gravers problemas de falta de moradia, e acompanhou de perto as propostas e o esforço para sua solução. Voltando ao Rio de Janeiro, propôs e construiu, na década de 1950, o conjunto residencial Pedregulho, no bairro de São Cristóvão. Faleceu no Rio de Janeiro em 2001.
Veja um pequeno trailer (destaque para o Pedregulho) do filme "REIDY, a construção da utopia", em cartaz em grande circuito a partir de 11 de novembro de 2011.
Apensar de atualmente o Pedregulho não estar bem conservado e vários de seus serviços não funcionarem mais, algumas moradores quiseram dar declarações à diretora do filme “REIDY, a construção da utopia”, Ana Maria Magalhães:
“Bom, eu vim morar aqui porque eu fiz uma pesquisa com o objetivo de fazer um projeto de restauração.”
“Localizado num lugar que você pode ir pra qualquer outro lugar que tem condução aqui em baixo.”
“Ah, isso aqui é muito bom. Um lugar muito tranqüilo para criar criança. Não precisamos prendê-los dentro de casa. Aqui eles soltam pipa. Aqui eles têm uma infância de fato.”
“Esse conjunto tem a característica de ter tido um carinho no projeto dos apartamentos. Você vê carinho quando você vê aqueles detalhes que eu te falei. Os detalhes mostram que houve um empenho, um empenho de que quem morasse aqui iria morar bem.”
“Então, nós tivemos uma infância maravilhosa. E nós tínhamos no início duas moças que visitavam as casas da gente, os apartamentos. Saber se precisava de alguma coisa, olhar as crianças, se as portas estavam abertas: ´Mantenha suas portas fechadas´. Mas eu nunca mantive a minha fechada, não.”
“Mas é uma obra muito boa. Veja bem, uma obra de cinqüenta e tantos anos ainda está como está! É original isso tudo ai. Tô dizendo, cinqüenta e tantos anos e ainda tem coisa moderna aqui. Foi um projeto talvez único.”
“E se alguém algum dia for perguntado o que você pensa da habitação social, talvez carregar um pouco deste exemplo daqui. Eles quiseram fazer o melhor. Mas foi um melhor muito adiantado pra época, sabe?”
“Foi quando a utopia e a realidade se encontraram, em um dado momento.”
“Porque nos tínhamos muito mais conforto aqui. Tínhamos lavanderia, posto de saúde. Tínhamos mercado, padaria... Eu aprendi a nadar ali. O ambulatório servia pra coisas de emergência, digamos, operações rápidas de amídalas.”
“Não é só construir um prédio, realmente é o conceito de bem estar social, das pessoas morarem e gostarem de onde moram.”
“Ao mesmo tempo você vê que os moradores estão tentando, de alguma forma, fazer com que o conjunto renasça. Eu só queria que alguém olhasse por isso aqui, mas mesmo assim continua bom.”
painel de Portinari |
Canção PEDRO DO PEDREGULHO (Geraldo Pereira)
Pedro dos Santos vivia no Morro do Pedregulho
Quebrando boteco, fazendo barulho
Até com a própria polícia brigou
Vivia do jogo e quando perdia só mesmo muamba
Rasgava pandeiro, acabava com o samba
Parece mentira, Pedro endireitou.
Estelinha, orgulho do morro, mulher disputada
Que quando ia ao samba saía pancada
Ao Pedro dos Santos deu seu grande amor
E ele trocou o revólver que usava, fingindo embrulho
Por uma marmita
E sobe o Pedregulho
De noite, cansado do seu batedor.
IMAGENS DO PEDREGULHO QUE FORAM RETIRADAS DO FILME
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